A sério que não entendo. Então agora pedem-me conselhos? A mim? Estranha, bipolar, mau feitio, gaja irritante... E sobre o que havia de ser? Relações. Ah, pois, se há pessoa que sabe sobre relações sou eu. Mas é sobre falhadas. O que querem? Que pegue nas minhas experiências e escreva sobre o que não se deve fazer? Só se for. Para que sirva de conselho (neste caso à Kelly, de Fafe), algumas recomendações: não vou colocar aqui o e-mail que me enviaste. Assim sendo, será tudo feito em forma de post, para que possas identificar a resposta aqui no meio. E olha, segues se quiseres, que eu não vou andar a fazer Follow Ups do que disse.
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Para quem via a série "Sex and the City" a frase do título não é, de todo estranha. Miranda, a advogada, andava toda entusiasmada com um tipo qualquer. Mas ele nunca mais lhe ligou. E ela procurava junto das amigas o apoio para inventar razões para tamanha atitude. Berger, o namorado mais giro da Carrie (pronto, acabou com ela num post-it, mas isso agora não interessa nada) desferiu o violento mas necessário golpe: "He's just not that into you!". Parece que até há um livro com o mesmo nome e tudo. E é assim simples. Não interessa se somos bonitas, bem feitas, realizadas, interessantes, se temos todas as qualidades do mundo. Podemos até ser perfeitas, mas isso não faz com que eles tenham de se interessar por nós. E a culpa das expectativas que se criam não é só da complicação que vai nas cabeças femininas. É também das amigas, que ainda ajudam. Ou seja: a miúda sai com um tipo. Senta-se na mesa para tomar café, e imagina-o logo de fraque, à espera dela no altar. Nem ouve o que ele diz, tão alto que tocam os sinos na sua cabeça. O que, para ele, é uma conversa de circunstância, para ela são mensagens subliminares que asseguram que eles vão passar o resto da vida juntos. Então vamos lá por partes, segundo o meu entendimento: os homens não são básicos, mas são simplistas. Não fermentam ideias na cabeça. Se querem, querem, se não querem, não querem. Não dão sinais falsos ou jogam à cabra cega. Se não convidam para sair, ou se não ligam depois de um encontro, é óbvio: não estão interessados. E isso não tem nada de mal. Portanto, nada de fazer a espiral do desespero: ele diz que liga (ou responde "hum, hum" à pergunta "Depois ligas-me?"), e não liga. Ao fim de dois dias, achamos que ele tem muito trabalho. Uma semana depois pensamos que, para além do trabalho, há-de ter a mãe doente. Ao fim de duas semanas, só pode ter acontecido uma destas coisas: ou morreu, ou voltou para a ex-namorada. Em qualquer um dos casos, é sempre um cabrão, porque não ligou. E as amigas? As amigas apoiam. Dizem que sim, que ele vai telefonar. E arranjam desculpas (não se estiver morto, claro). Porque é isso que elas querem que façam por elas, quando precisam. E depois das desculpas, quando ele não liga mesmo, elas ajudam a insultar. Chamam-lhe cabrão, imbecil, e afagam o ego da "desprezada", dizendo que o mais mal é dele. Ele não sabe o que perde... E nisso têm toda a razão: ele não sabe. Primeiro, porque não se perde uma coisa que não se tem (principalmente se esta opção é dele). Depois, porque ele não quer saber o que perde. Se quisesse, teria ligado. Repetir para nós: "Ele não está interessado!", e seguir viagem. Há muito peixe neste mar. Quanto mais depressa metermos isso na cabeça, mais depressa avançamos.
Algumas variações importantes:
1 - Ele, efectivamente, acaba por ligar. Isso não quer dizer que ele queira o altar e os sinos. O mais certo é querer a noite de núpcias primeiro.
2 - Ele não liga. Ela encontra-o na rua, um mês depois, e ele diz que perdeu o número de telefone dela. Diz que desta vez vai ligar. Trabalho - mãe doente - morte - cabrão... lá está a espiral.
3 - Ele liga mas, a meio do segundo encontro, diz que tem uma relação séria e gostava de ser só amigo... f*d*-se, ele que vá buscar amigas ao Hi5. Se o queres para qualquer outra coisa, não penses que podes começar pela amizade.
4 - Chamadas anónimas só para verificar se ele não morreu: não!
Ah, e o mais importante de tudo: se os conselhos valessem para alguma coisa, eu estaria a vendê-los, não a dá-los...