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Killing me softly

por Bad Girl, em 10.10.08

Desta vez o tema é sério. Não que das outras vezes não o seja. Mas desta vez sai de um armário da memória que eu achava já ter sido deitado fora para ser trocado por um multifuncional armário do IKEA. Como em tantas coisas na vida, enganei-me. E ainda tenho o móvel velho (chame-se vintage, dá no mesmo) nos arrumos da memória. Juntem-se os Freuds que lêem este blog, aglomerem-se as hordas de opinadores que me conhecem como às palmas das suas mãos "Ah, que giro, olha aqui este risco!". Esta é a vossa oportunidade para entrarem nos meandros da complexa mente que é a minha.

O que arrastou este móvel para o meio do corredor dos dias, para que eu tropeçasse nele foi a frase de uma colega. Falava-se de um alguém que não é suposto ser bom diabo. E quem somos nós para julgar se alguém é bom diabo ou não? Sei lá. De repente alguém desferiu o golpe final, aquilo que provava que ele era mesmo um traste, má pessoa, um gajo do pior:
- Até conheci uma rapariga que se matou por causa dele...
E eu gritei. Um grito de raiva e angústia, que sentenciou:
- Se ela se matou foi por causa dela, não por causa dele.

O resto dos argumentos não ouvi. Passara demasiado tempo a tentar guardar aquele armário para me fazerem tropeçar nele. Como a interlocutora não se calava, só me ocorreu dizer-lhe:
- Um dia que tenhas alguém que te diga que se mata por tua causa, eu quero ver se achas que tens culpa.
E virei costas.

Eu teria uns 22 anos e a vida ainda guardava algum romantismo para mim. Foi quando conheci o Paulo. O Paulo não tem dignidade para ter a sua privacidade aqui preservada, não tem direito a ter apenas uma inicial. O Paulo era um imbecil e um inútil. E só por isso foi capaz de tentar o suicido, por minha causa, segundo ele. Da minha parte lamento o falhanço. Mas não acredito que a tentativa tivesse sido séria. O facto de ele se lembrar ao pormenor da roupa que eu levava na primeira (segunda, terceira, quarta) vez que me viu não me pareceu estranho. Pareceu-me romântico. O facto de ele ter feito uma viagem Lisboa - Porto e estar à minha espera à porta de casa dos meus pais quando eu cheguei, de madrugada, de uma festa, só porque não lhe atendi o telefone não me pareceu obsessivo. Apenas estranho. O facto de me ter seguido e tentado levar à força de um parque de estacionamento não me pareceu criminoso, apenas obsessivo. E o facto de todas estas coisas se terem passado sem nunca ter existido uma relação entre nós não me pareceu doentio, apenas ridículo. O que me pareceu criminoso, doentio e perigoso foi ter atendido o telefone num dia qualquer e ter uma senhora histérica, aos gritos do outro lado da linha, a acusar-me de lhe ter tentado matar o filho. Foi aí que percebi algumas coisas. A primeira é que as psicoses podem ser genéticas. A segunda foi que devo sempre desconfiar de pessoas que, até ali, definiria como excêntricas ou estranhas. Acima de tudo percebi que, apesar de ter sido arrastada uns metros num parque de estacionamento público e de ter uma testemunha, não há justiça preventiva neste País. Pelos vistos, e de acordo com a polícia, só havendo uma agressão. Mesmo assim, talvez fosse melhor eu aparecer morta para eles tomarem providências. Mas aprendi uma coisa mais importante que todas estas: a não aceitar culpas que não sejam minhas. A história magoou-me, magoa-me e, certamente, continuará a magoar-me de futuro. Mas não é feita de culpas. Apenas de lições.


14 comentários

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De Dalila a 10.10.2008 às 17:03

Marcas que ficam para uma vida inteira... Mas o importante são as voltas que a nossa vida dá, e aquilo que conseguimos fazer para n aturar + este tipo de «acidentes». Não deveria ter sido fácil, mas foi uma lição tal como dizes. E agora é olhar em frente...

bjs
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Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!

 

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