
Apesar de cinéfila não sou parva, e isto de as pessoas que vão ao cinema terem de andar a compensar os prejuízos que os DVDs piratas fazem à indústria não me convence. Por isso, são raras as vezes que vou ao cinema a horas que não sejam consideradas de matiné (entre as 13 e as 20). 4 euros já me parecem mais do que suficientes para assistir a filmes. Por vezes sabe bem sair do trabalho e correr para uma sessão às 19h. Pouca gente, sem filas... cenário que pode ser idílico – como quando estive, sozinha de todo, a ver o Kill Bill 2, ou infernal, como ontem – tudo isto dependendo da meia dúzia de gatos pingados que partilha o espaço connosco.
Começamos (a Butterfly e eu) por entrar e nos instalar. A sala parecia estar em regime de exclusividade, e por isso localizamos rapidamente os melhores lugares, para o visionamento do filme. O resto das pessoas começou a chegar: o casalinho de namorados que se plantou nas cadeiras imediatamente atrás de nós, o senhor sozinho que ficou algumas filas mais à frente, o casalinho que decidiu ir para o nosso lado, e o outro casalinho que ficou duas filas à nossa frente. Mais tarde, já no começo do filme, chegaram duas senhoras e uma jovem, certamente três gerações de uma mesma família.
Primeira coisa que não entendo: que raio de povo é este que passa horas ‘enlatado’ no trânsito, na fila do supermercado, na fila do selo para o carro, na fila para entrar nos concertos de música e, à primeira oportunidade de escolher um lugar longe de todas as pessoas, o que faz? Senta-se o mais próximo possível de estranhos...
O filme foi uma merda. Poseidon é uma espécie de Titanic dos tempos modernos, com um Josh Lucas mais apetecível que o Leo di Caprio, e com uma banda sonora tão manhosa como a canção da Céline. O final, esse, foi dramático. E não estou a falar do final do filme em si. Estou a falar daquela altura em que o genérico começa a passar, as luzes do cinema começam a acender, e nós temos oportunidade de olhar melhor para as pessoas que nos rodeiam. Percebi num instante que o macho do casal do lado se levantou ao ritmo das letras, e colocou o cinto. Deixo à vossa consideração, como também ele deixou à nossa, o porquê da saída do cinto das calças (tinham um pacote de pipocas pequeno). Mas nem mesmo isto me preparou para o que se seguiu: o parzinho de trás, que eu pude ver quando me levantei, dançava, impávido e sereno como se mais ninguém ali estivesse, o slow que acompanhava o final do filme. Ela segurava-lhe, com firmeza e por dentro das calças, os glúteos. Ele tentava (em vão, parece-me) arrancar-lhe o fígado pela boca... não sei como a história acabou. Só tinha comprado bilhete para um filme, e não queria estar a ver a sequela logo ali.
Será que é perigoso ir ao cinema, hoje em dia?
Será que aquela gente também vai a filmes infantis?E, mais importante que tudo, será que aquela gente ainda vai demorar muito tempo até arranjar uma casa?