
Fundamentalismos à parte, eu sou uma agnóstica convicta e praticante. O ser-se praticante de agnosticismo poderá ser curioso para quem pratica, na verdade, uma religião, devotando tempo, orando e deslocando-se aos seus templos. O meu "praticante" é aqui usado de uma forma quase irónica. Sou praticante porque exercito o meu cérebro quase diariamente na manutenção desta minha (des)crença. Para mim a coisa é simples: todas as religiões assentam em princípios base muito similares que são interpretados a belprazer dos seres humanos da forma que lhes dá mais jeito. Bíblia, Alcorão, Torá, Rig-Veda... para mim é tudo mais ou menos a mesma coisa. E nenhum está errado ou é fundamentalista. As interpretações que lhes dão é que, por vezes dão origem a algumas coisas menos "agradáveis", como guerras, e assim. Mas ainda não é por este caminho que eu quero seguir. Fui criada numa família católica. Não praticante, admito, e nada radical. Mas sempre fui olhada com alguma desconfiança pelos meus tios e restante família, que não a próxima, pela minha quase escandalosa escolha de "voltar as costas a Deus". Sendo que os anjos, mesmo os selvagens, não têm costas, segundo se diz, não me parece que isso constituísse, a ser verdade, um problema. Mas não, o que a maior parte das pessoas não entende é que eu não virei as costas a Deus. Nem a Alá, nem a Buda, nem a quem quer que seja. Virei, isso sim, as costas à representação que eles deixaram cá por baixo. E, mesmo tendo uma posição de algum distanciamento de todo este circo que se montou em torno de algo que podia ser o fundamento básico da construção de carácter dos indivíduos, não consigo deixar de ficar chocada com merdas que me chegam aos ouvidos. Pensei que um dos fundamentos básicos da religião católica fosse a compreensão, a igualdade entre os homens, a capacidade de amar o próximo. Li algures numa revista que o Bispo de Viterbo,
Lorenzo Chiarinelli, se recusou a casar dois jovens porque o noivo tinha sofrido um acidente de carro e estava paraplégico. Como consequência do acidente ficou também impotente. Aos olhos do representante daquela casa de Deus, a coisa é simples: não pode procriar, não pode casar. E quanto à capacidade desta mulher continuar a amar este homem, ele não esteve com meias medidas: ela estava a perder o seu tempo, porque a obrigação dela é procurar alguém que possa fazer amor com ela (perdoem-me a liberdade poética) e multiplicar a espécie. O amor? Esse parece ser relegado para segundo plano pelo senhor Bispo ali mencionado em cima. Posto isto, sobram-me dois comentários. O primeiro é para o Bispo, que me fez ficar com muita pena de o pai dele não ser impotente à altura do casamento. Teria sido um favor que me faziam. O segundo é para a igreja católica em si. Que passa tanto tempo a debater sobre o distanciamento dos jovens da religião. E eu pergunto-me: PORQUE SERÁ??????