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... sobre a queda da muralha, posso contar aqui uma história.
Imaginem que depois de muito colocarem tijolos num certo muro, convidam "alguém" para jantar.
Imaginem que o jantar é em vossa casa.
Imaginem que a certo ponto do convite, o "alguém" se oferece para cozinhar.
Imaginaram?
Muito bem. Prossigamos.
Imaginem que no dia do tal jantar esse alguém vos liga a combinar as coisas e vos diz:
- Ando para te perguntar uma coisa...
E vocês, cabecinha mil à hora, melam o tom e respondem:
- Sim??!!???
E do outro lado sai um:
- Tens forno?
Isto é como diz o meu amigo Hugorila:
- Se queres atitudes à homem não te podes meter com putos. Por muito maduros que sejam. Chegará a altura em que se revelarão.
Eu já devia saber. Se há a mais pequena possibilidade de meter água, lá estarei eu para ter a certeza que a coisa se realiza.
Aprendi com aquela vez que disse: “Foi o jantar mais mal (não pior...) organizado em que estive nos últimos tempos!” e me responderam: “Foi o meu melhor amigo que organizou…”. Não, não me parece que tenha aprendido. E aprendi alguma coisa naquela vez que disse: “Dá-me já uma faca para eu cortar os pulsos. Mas não é accross the street, é down the road. E mergulhado em água…” e ouvi: “O meu irmão morreu assim…”. Não, não aprendi. Nada de nada. Tábua rasa das experiencias passadas. Por isso hoje, a caminho do jantar, quando o passageiro de um BMW todo XPTO mete a cabeça de fora e pede em italiano ao condutor que acabava de estacionar o seu C2 para chegar mais para trás, para o amigo poder também estacionar, porque raio fui eu dizer, alto e em bom som, no meu melhor português:
“Oh meu querido, que aselhice, cabia aí um camião!”
Será tão surpreendente assim que do lugar do condutor tenha espreitado um senhor (com muito bom aspecto), que me returque em português do Brasil:
“Se você acha que consegue, vem você colocar o carro naquele lugar!...”
E eu gelei?
Gelei sim senhor. Porque ele era (muito) giro. Porque eu tinha sido apanhada mais uma vez a dizer um disparate. E porque, convenhamos, eu não sou uma condutora brilhante. E estacionar é o que faço (ainda) pior. As meninas que estavam comigo desataram à gargalhada, enquanto ele explicava o desafio ao passageiro do carro. Também ele giro, mas com cerca de metade do encanto.
Eu sorri. E ele continuou:
“Então? Não vem não? Falar é fácil…”
E seja o que Deus quiser, ontem até andei às voltinhas em cima do touro, talvez a minha sorte esteja a chegar, lá lhe respondi:
“Bem, ajoelhei, agora vou ter de rezar, né? E se eu fugir com o carro?”
“Suas amigas ficam de garantia.”
De repente aquele espaço para estacionar pareceu-me mínimo. Eu própria estava pequenina. Onde é que estava o gajo do C2 quando eu precisava dele?
Pois vou-vos dizer que o santo do touro fez o trabalho dele. À primeira. Não foi à segunda, não foi preciso rearranjar o carro no lugar, nem sequer foi preciso dar toques à frente e atrás. Estupidamente o carro encaixou ali como se de uma peça de puzzle se tratasse. E lá sai eu, cheia de moral. Olho para ele e digo:
“Se precisar de ajuda para tirar o carro do lugar, eu vou estar a jantar ali naquele restaurante!”
E não é que eles também?
Agora não conto mais nada. Há mais. Mas tendo em conta que me levantei às seis da manhã e são aqui quase duas, vou mas é dormir.
Vamos lá a isso!
É na Galleria Vittorio Emanuele? É sim, senhor. É em frente à Prada? É sim senhor. Estão centenas de pessoas constantemente a passar? Mal seria se não... É superstição? Pois claro que sim. E tu fizeste isso exactamente porquê?
Porque... sim!
Se vierem a Milão, não se esqueçam: toca a rodar em cima do touro. Azar não deve trazer, certo?
Percebemos que as coisas continuam, nos locais que deixamos para trás.
Que o Mundo e a vida não se suspendem a aguardar o nosso regresso.
Que somos capazes de estar longe.
Que a vida não se compadece com a nossa distância.
É como descobrir que conseguimos respirar debaixo de água, mas que nada está igual quando voltamos à tona.
Sorrir perante essa realidade é gozar de algum desprendimento. Que não se aprende. Que não é fácil de ganhar. Mas é uma sensação inigualável...
Viajar num Embraer dá-me sempre aquela sensação de que sou eu mais cerca de 100 amigos que vamos para qualquer lado. Viajar num avião atrasado traz-me sempre à lembrança que as companhias aéreas fazem o que querem do tempo e da vida das pessoas. Se, a somar a isso, nem o Comandante Antunes nem o resto da tripulação pedem desculpa pelo pequeno atraso de uma hora e meia, eu sei que estou na TAP.
Chegada a Malpensa, um aeroporto que fica além do local onde Judas perdeu as botas, fiquei a pensar porque raios tinha eu ficado tão bem impressionada com as pessoas daqui na minha primeira visita à cidade. Lembro-me de ter entrado num táxi e ter achado o taxista um charme. Lembro-me que ele estava vestido como se fosse a um evento importante a seguir. Lembro-me que eram todos assim. Mas ontem não. E deve ser essa uma das diferenças entre aterrar em Malpensa ou aterrar em Linate. Essa e cerca de € 75,00 de conta final.
O moço tinha cara de totó e eu estava convencida que ia demorar uma eternidade a chegar ao Hotel. Claro que percebi que ele não era assim tão atado quando me disse qualquer coisa em italiano puro e terminou com um “bella”. Não percebi, encolhi os ombros e cheguei à conclusão que ele me tinha dito: “Vamos só ali dar a volta por Turim, que aqui está muito trânsito, bella!”. Mas não. Piloto de Fórmula 1 frustrado, o Luigi manteve o ponteiro quase sempre colado nos 160 quilómetros/ hora, velocidade bastante aceitável para se atingir à noite, quando se transporta um estranho. Já não me lembrava de ver a morte assim tão de frente desde que andei de táxi em Roma.
Está frio. A cidade é cinzenta. Maldita memória poética que guardo das coisas. Onde é que estão as pessoas lindas de morrer que eu vi quando estive cá, há 5 anos atrás? Onde está a sensação de entrar em qualquer lado e ficar com a ideia de que estou a entrar numa agência de modelos? Onde estão as pessoas que vão à padaria arranjadas como se fossem encontrar o homem ou a mulher das suas vidas? Terá a cidade mudado assim tanto? Estarei a ir aos locais errados? Terei eu uma visão menos deslumbrada das coisas e das pessoas? Terei ganho (ainda mais) cepticismo? Não sei. Só sei que a cidade não tem o encanto da primeira vez. Mas, pensando bem, é assim com tudo, não?
Por ela entenda-se EU!
Depois de um inglório dia de buscas por toda a cidade de Milão sem encontrar o Zé ou o Ricardo, chego ao Hotel para me deparar com comentários infelizes de quem nada mais tem para fazer do que isso: deixar comentários infelizes em blogues alheios.
Tendo isto em conta, e não tendo aqui uma cozinha ao pé para dar largas aos meus dotes culinários, fiz algo que não me é habitual: respondi a comentários. Mas logo, depois de sair para ir jantar a um belo restaurante italiano e depois de comer muita mozzarella di bufala, ainda tenciono deixar aqui um post sobre as primeiras 24 horas em Milão.
Lá pelo Burgo acham que me vão mandar para Milão para trabalhar.
Na verdade, o meu objectivo é outro.
Trazer, custe o que custar, o Zé e o Ricardo de volta.
Se for preciso implorar, eu imploro.
Se for para chorar, eu choro.
Se for para pedir com jeitinho... Que se lixe, eu peço!
Mas não saio de lá sem eles!
Normalmente quando estou com a neura, cozinho. Não sou fã das lides domésticas, mas cozinhar acalma-me o nervoso miudinho.
Quando me passo um bocado grande, faço umas ameijoas à Bulhão Pato ou assim, e a coisa abranda.
Hoje fiz:
Mexilhões com alho e vinho branco
Frango assado com pinhões e ananás
Apfelstrudel
A familia agradeceu.
Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!