por Bad Girl, em 27.05.14
Parece que foi ontem.
Tem sido uma viagem fantástica.
Obrigada a todos desse lado.
por Bad Girl, em 27.05.14
No dia em que o cancro vai embora, tu ficas aliviada. Telefonas a toda a gente, anuncias que está tudo bem, enches o peito de ar e gritas (com ou sem som) 'Fuck cancer!'. Multiplicas-te em celebrações, pequenas ou grandes, tudo serve para comemorar. Respiras fundo. Sentes-te livre. Achas que já está, que ganhaste ao bicho, e que tão cedo não vais ouvir falar dele, certo? Errado. Primeiro dizem-te que nos próximos dois anos vais ter rédea curta, não engravidas, não estás oficialmente curada, amargas com análises todos os meses, consultas frequentes e exames q.b. E tu estás excitada com a novidade, análises uma vez por mês é melhor do que todas as semanas, do que quimioterapia e do que longas noites passadas com químicos a comer-te as veias. E tudo isso está certo, e é mesmo verdade, e é bom. Muito bom. Maravilhoso. É tudo o que ambicionaste durante seis meses. Mas ninguém te contou que até tu, diagnosticada com um mal de excesso de optimismo, ficas com um frio na barriga de cada vez que pões um pé dentro do IPO. Que tens um bocadinho de medo todas as vezes que vês o teu sangue a escorrer para a pipeta. Que o coração bate mais ligeiro enquanto esperas por mais uma consulta. Se achas que 'ter alta' vai fechar a porta ao cancro, estás enganada. Mas nada terá em ti o efeito de um "está tudo bem" a seguir ao outro. O meu segundo "está tudo bem" desde a 'alta' foi hoje. E foi bom.
por Bad Girl, em 20.05.14
Bad Mum tem um smartphone. Deus Nosso Senhor vos responda à pergunta: "Por que raios tem Bad Mum um smartphone?", que eu não sei. Havia um smartphone à venda, ela achou giro, comprou. Os primeiros tempos foram difíceis. Entre as suas proezas, encontra-se colocar o telefone em silêncio apenas por lhe encostar a face, ou tirar fotografias a coisas inusitadas só porque... Sei lá. Enfim, a verdade é que nunca recebi tantas SMS da minha mãe como após a aquisição do smartphone. Rejeitar chamadas é pouco. Bad Mum rejeita chamadas COM mensagem de apoio à rejeição. Um destes dias fui rejeitada porque Bad Mum, que não trabalha, estava numa reunião. Também já fui rejeitada com a informação de que Bad Mum estaria a guiar. Feito absolutamente extraordinário para uma pessoa que não toca no volante há mais de vinte anos. Ora hoje o caldo entornou-se pois Bad Dad ligou-me, furioso porque eram quatro da tarde e Bad Mum estava a almoçar. E não se admite que uma pessoa com a saúde frágil esteja a almoçar às quatro da tarde.
E o que lhe disseste?
Eu não disse nada. Ela mandou-me a mensagem a dizer que estava a almoçar e eu fiquei tão furioso que nem lhe disse nada.
Pai... Mensagem da mãe... ????
Uma é tonta, o outro é anjinho....
por Bad Girl, em 19.05.14
Por questões de rotinas que só a nós interessam, MQT e eu tomamos, uma ou duas vezes por semana, dependendo das semanas, o pequeno-almoço num café ao pé do trabalho (dos trabalhos, melhor dizendo). Fazemos isto há anos. Um destes dias reparei numa senhora que me sorria persistentemente. E eu fazia matemática mental para me lembrar de onde conhecia a senhora. E o resultado, por muitas contas que eu fizesse, era sempre zero. Sou péssima com caras, entro e saio dos sítios sem saber quem lá estava, sou concentrada noutras coisas e de manhã sou praticamente um morcego, de tão cega. Então, dizia eu que a senhora olhava e sorria, e eu sorria de volta, de onde é que eu a conheço, eu conheço mas não estou a ver de onde, eu levantei-me para pagar e a senhora fez-me um 'like' ao vivo e eu rebentei de curiosidade, fui ter com ela que, envergonhada, me disse que ficava muito bem com o cabelo assim; que só me conhecia dali, mas que me ficava muito bem, e eu senti uma alegria imensa a tomar conta de mim, não porque o cabelo me fica bem, ou porque a senhora acha que sim, mas porque ainda há gente tão querida, que é capaz de, assim do nada, ser genuinamente amável com alguém que não conhece. Não sei se ela sabe do cancro. Da queda de cabelo. Não sei se ela sabe que a franja e os longos cabelos eram uma peruca e que este corte à rapazinho representam uma pequena vitória. Talvez saiba, as pessoas nas mesas ao lado ouvem coisas. Ou percebeu, que também não é normal, no espaço de três ou quatro meses, a pessoa ter cabelo comprido, depois curto, depois comprido e depois curto outra vez. Eu não sei se ela sabe, ou se ela percebeu. Eu sei que ela restaurou um bocadinho a minha fé na humanidade. E isso é bom.
por Bad Girl, em 12.05.14
Brooke Birmingham tem 28 anos e perdeu 78 quilos. Aparentemente, não chega. Para a revista Shape, Brooke tinha de ter perdido 78 quilos e não ter "sobras". Brooke precisava de ter perdido 78 quilos, história bonita para a revista, mas não podia estar de biquini, como todas as mulheres que aparecem no seu site. Para a revista Shape que - não se iludam - faz apenas aquilo que os leitores esperam que esta faça, a história de Brooke só é de sucesso se ela se tapar. Se ela, 78 quilos depois, continuar a sentir-se envergonhada, a esconder-se. A revista Shape é uma merda porque a sociedade em que vivemos é uma merda. A revista Shape é uma bully porque a sociedade é má, mesquinha. Para a revista Shape a história de Brooke só é uma história de sucesso se ela esconder aquilo que a revista Shape não considera digno de um modelo de sucesso. A revista Shape quer que as leitoras gordas se motivem a perder peso para ficarem perfeitas debaixo da T-Shirt. Porque as pregas que Brooke tem, troféus da sua conquista, são um embaraço para a revista Shape. Não se enganem. A revista Shape também somos nós. Bem haja as "Brookes" do mundo, que nos chamam à razão.
A história aqui:
http://www.huffingtonpost.com/brooke-birmingham/why-i-refused-to-put-a-shirt-on_b_5274348.html?ncid=fcbklnkushpmg00000063
por Bad Girl, em 12.05.14
Andamos furiosos. Inconsoláveis. Andamos zangados com o país e com os que o governam, andamos aos gritos. Gritos mudos, gritos furiosos nas redes sociais. Mobilizamos partilhas de indignação, partilhamos notícias de decisões que consideramos inaceitáveis, envolvemos-nos nos insultos aos eleitos, achamos a Europa uma merda, ou uma tábua de salvação. Opinamos, insultamos, revoltamo-nos. Revoltas de almanaque. Revoltas de miúdos no recreio, que não brincam mais com este ou aquele. Revoltas de sofá. Rogamos pragas, atiçamos uma matilha imaginária, avisamos vinganças, apontamos o dedo em tom de ameaça. Fazemos e acontecemos. A menos que esteja sol. Nesse caso, vamos para a praia. Também, quem é que se lembrou de marcar eleições no final de Maio?