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Em sendo um professor, que se dedicava a telefonar a alunas de catorze anos às tantas da manhã e a ir a casa buscá-las de carro era um pranto que não se havia de aguentar. A mãe da menina de catorze anos, desonrada e enganada por um homem vinte anos mais velho, havia de clamar justiça, distorcer a voz na televisão, dizer que a filha já não comia, não falava, a pobre menina está de alma morta, chorosa e traumatizada. O professor havia de sair de uma carrinha celular de casaco a tapar o rosto e os populares haviam de lhe chamar muitos nomes, cuspir raiva, clamar por justiça. Havia de negar que tivesse dado o número a esta menina e a “muitas outras”. Talvez dissesse que a menina era só amiga. Que falavam durante horas e que a ia buscar para dar explicações, mas o povo havia de não acreditar. De não dar o mais pequeno benefício da dúvida. E se, no topo de tudo, viesse ele, o professor, o tal que trocava mensagens com meninas de catorze anos e que as ia buscar de carro a casa para “explicações” dizer que as pessoas têm inveja, que ele é jovem e bonito e esse bando de enciumados não suporta tamanha sensualidade? Pois, mas não é. É uma professora. E um rapaz. E, de repente, já tudo fica tão mais suave, não é?
Este blogue não pretende fazer cobertura da campanha eleitoral.
* podem aproveitar e enfiar o dito lápis num sítio onde o sol não nasce.
Eu tenho duas cadelas. São umas queridas. Separadamente. Largam pelos, a casa nem sempre cheira tão bem como podia, dão trabalho. Muito trabalho. Custam dinheiro. Um bom bocado de dinheiro. Aqui há uns tempos, não bastassem já estas coisas, começaram a pegar-se. Em mau. Com sangue. Houve uma vez que foi tão mau, tão mau, que não preguei olho toda a noite. Chorei um bocadinho. Metade frustração, metade tristeza. Pensei muito. Pensei em tudo. Como ia ser no dia seguinte. Saí para trabalhar de directa e com o coração nas mãos. Durante muito tempo, a coisa não melhorou. Até chegou a piorar. Encontramos uma treinadora. Disciplinamo-nos. Fomos tendo algumas vitórias. Algumas derrotas. Fomos contando dias uns atrás dos outros. Uns melhores que os outros. Estamos a fazer de tudo para não termos de tomar uma decisão que não seja a de melhorar, dia após dia, para viver em paz. Para sermos todos felizes. Juntos. Não pegamos nas cadelas para deixá-las na GNR ou no canil. Ainda que sendo cadelas, não desistimos delas. Um pai que despacha as filhas para viver em paz com a namorada? Puta que o pariu, o fraco de merda. E ela? Nas costas dos outros vemos as nossas. Talvez um dia alguém tenha de escolher, e ela fique para trás. Fingers crossed.
Não conhecia profundamente a obra de Manoel de Oliveira. Não era a sua maior fã, só vi uma mão cheia de filmes dele. Era, contudo, uma enorme admiradora do homem. Caramba, um senhor que vive até aos 100 e vai além, que a viveu toda e em bom, que não ganhou anos perdendo vida? Bem haja. Partilhamos o dia de anos e eu sempre achei que isso nos ligava de alguma maneira. Não lhe desejo que descanse em paz pois não me parece que o quisesse. Manoel de Oliveira morreu hoje e eu fiquei surpreendida. Morreu aos 106 anos e eu fiquei surpreendida. Contei a pessoas e também elas ficaram surpreendidas. Ninguém esperava que ele, apesar dos 106 anos, morresse. Era, portanto, eterno.
Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!