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Hoje não me deito com mais medo do que ontem. Não deito. Vou para a cama e, se tudo correr bem, dormirei até amanhã, dia que também não me trará medo. Deito-me, isso sim, com uma tristeza enorme porque há mais gente hoje a deitar-se com medo. Mais gente a deitar-se sozinha, quando ontem se deitou ao lado de quem amava. Mais órfãos. Mais pais que perderam os filhos. Não são belgas, tal como no fim de semana não foram turcos e antes não foram (só) de tantos sítios que nem sempre consternaram o mundo da mesma maneira. Somos nós. São pessoas que se atrevem a viver em liberdade. Sejam elas quem forem, sabem lá esses cobardes que se explodem no meio da multidão, sem saber quem matam. O que eles querem matar não são as pessoas. Isso são danos colaterais. O que eles querem matar, o que os enraivece, que lhes perfura as entranhas, é a liberdade. A de todos nós. O que eles querem, e estão a conseguir, é enojar-nos uns contra os outros. Tirar-nos a vida é apenas um meio para tirar a vida, como a conhecemos, de nós. Querem dividir-nos, matar-nos a paz. O que eles querem é raiva, mais do que dor. É ódio, mais do que tristeza. É medo. Medo de sair de casa, medo do vizinho, medo da vida. Por cada pessoa que se revolta contra os políticos, contra os refugiados, contra a ineficácia das medidas preventivas há um verme destes que se revigora, se regozija, que ganha força. Estou certa que rezar não chega. E sim, de cada vez que uma bomba explode eu também acho que esses gajos deviam morrer todos, de preferência com um sofrimento enorme. Mas também não acho que más vibrações vão resultar. O que eu sei que não vai resultar é isto, nós contra nós. E é isso, o nós contra nós, que me deixa a meio caminho do medo.
Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!