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Pensei muito antes de escrever este post. Até há poucos anos atrás era um assunto que me magoava muito. Este momento de seriedade e quase confissão não servirá para desmarcar o ritmo deste blog. Amanhã voltaremos ao registo habitual.
Foi ao ler este artigo que um avassalador número de memórias caiu em cima de mim. É costume dizer-se que são as crianças que são cruéis. Nunca senti a crueldade das crianças na pele, no meu tempo. Contudo, a estupidez desmedida dos adolescentes tonaram o final da minha adolescência num inferno.
Começo do princípio, e tento usar todo o distanciamento que me for possível. Nos meus 10º, 11º e 12º anos vivi os piores anos da minha vida. A somar a todas as crises existenciais típicas da idade, ao transformar diário do corpo, ao ganhar formas, havia ainda aquela pseudo-guerra dos rapazes com as raparigas. Apesar de ainda miúda, já tinha esta atitude de indiferença para com o resto do Mundo. Não é arrogância, não é sentimento de superioridade. A bem da verdade, naquela altura, eu nem sequer tinha mau feitio. Andava na escola para aprender, e era para isso que eu lá estava. Sempre estive no grupo dos melhores das aulas. Nunca fui de socializar muito. Nesse aspecto sempre fui muito coerente: se não me agrada a conversa, não perco o meu tempo. Talvez tenha sido por tudo isto, talvez tenha sido por nenhuma destas razões, sempre fui alvo de algumas implicâncias. Numa altura em que as colegas da turma ostentavam seios proeminentes ou, pelos menos, desenvolvidos, os meus teimavam em não aparecer num tamanho suficiente para "encher a vista" dos meus coleguinhas de turma. Assim sendo, desde a primeira aula do dia até à última, desde que entrava no autocarro até à altura em que de lá saía, durante três anos, todos os dias, de segunda a sexta, eu ouvi bocas que variavam entre o "olha a tábua!" até ao original "sai ao pai". A minha resistência em ir às aulas começou a ser tão grande que tive de ser arrastada pelos meus pais para um psicólogo. Talvez alguns de vocês não entendam, mas fosse qual fosse a razão, a pressão psicológica chegou a um ponto quase intolerável. O médico garantia-me que, com toda aquela pressão, eu estava também a ordenar ao meu corpo que ele não se desenvolvesse. Foi já por alturas do 12º ano que eu comecei a treinar as minhas "orelhas moucas". E, apesar de ter ficado muito boa nisso, nem sempre o filtro viria a funcionar tão bem como eu gostaria.
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Acabou-se o liceu, cada um seguiu a sua vida. Mantive o contacto com as minhas duas únicas amigas da altura. Há cerca de dois anos, alguém que certamente não terá vivido aqueles anos da mesma forma que eu, decidiu organizar um jantar. Tinham-se passado dez anos. Senti um nó na garganta quando disse que sim, que ia. E foi quase como aquilo que se vê nos filmes americanos. Dez anos depois, e apesar de eu ter acabado o liceu a "sair ao pai", lá fui eu. Precisava daquela catarse. No final do jantar era consensual: eu era a que mais tinha mudado. Alturas houve, durante o jantar, em que alguns daqueles que mais me massacraram não tiveram coragem de olhar-me nos olhos. No seu olhar, pedidos de desculpas em catadupa. Nessa altura eu percebi que estava, finalmente, livre de toda aquela pressão, e que já nada daqueles anos me dizia nada. Não os esqueci, e não quero. Tenho uma sobrinha, tenho amigos com filhos, não sei se virei a ter filhos meus. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para nunca os ver passar por isto. E sei o que sentem estes miúdos que falam nesta reportagem. Também sei que nada do que lhes for dito pode adiantar alguma coisa. Só o tempo pode resolver estas coisas.
Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!