por Bad Girl, em 03.12.07
... mas a mãe dela (será o pai?) dá-me azar!
Hoje não tenho pensado noutra música. E porquê? Porque ontem dei cabo da minha imagem de céptica pseudo-intelectualóide quando, em conversa com o J.B., decidi afastar todo o mal que as palavras dele podiam trazer à minha vida e bati três vezes na madeira. O olhar dele situava-se entre o incrédulo e o estupefacto. De repente, desatou a rir.
- E posso saber porque estás a rir?
- Não sabia que eras supersticiosa. Pensei que isso estava reservado a pessoas como eu.
- Como tu?
- Sim, crentes, simples. Como eu. Nunca pensei ver esse gesto numa pessoa agnóstica e tão segura.
Na altura respondi-lhe com o refrão de cima, mas fiquei a pensar. Não acho que seja menos inteligente ou menos terra a terra por ter os meus pequenos rituais. Coisas que faço já num estado de quase subconsciência. Prender a mesma peça de roupa com molas de cor igual. Bater com os dedos na madeira. Não deixar velas acesas em frente a espelhos... e essas são as que me lembro. Obsessiva compulsiva? Supersticiosa? Maníaca? Como é que uma pessoa que não acredita em nada pode agarrar-se a certos rituais? Uma destas manhãs, aqui há algum tempo, passei por um trevo de quatro folhas, caído no chão. O meu lado cerebral pediu-me para ignorá-lo. Este espaço entre aquilo que eu controlo e o que não sou capaz de controlar pediu-me para o apanhar. Eu ignorei-o. Dois minutos depois, ia caindo nas escadas. E de que foi a culpa, dentro da minha cabeça ainda mal acordada? De não ter apanhado o puto do trevo. Tudo o que não queremos é chatear o universo. Deixá-lo ficar contra nós. É que a coisa não está fácil. E a possibilidade de deixar passar uma nesga de boa sorte, por ínfima que seja, não pode ter lugar. No fundo, agarro-me às superstições porque não tenho a resposta a todos os obstáculos que a vida me põe.
Acredito verdadeiramente que dá resultado? Não. Posso passar sem o fazer? Não. Da mesma maneira que tenho amigos que reencaminham os e-mails em cadeia para as 54 pessoas que lhes garantem felicidade, também eu vou continuar a pendurar a mesma peça de roupa com molas de cor igual. Porque o meu cepticismo precisa de acreditar. Em quê? Que eu consigo controlar o que está fora do meu controle.