
Hoje tivemos uma pequena reunião de família na casa dos meus pais e, após uma tarde de convívio com a minha tia E., eu dei um nome àquilo que muitas mães têm. Chama-se síndrome da mãe da noiva e, orgulhosamente vos digo, fui eu que inventei (o termo). Já convivi com muitos estilistas, lojistas, caterers e floristas para perceber que este síndrome é real. Quem dá cabo das cabeças dos organizadores de eventos com merdices nos menus, detalhes de pôr uma folhinha de salsa aqui, e mais uma azeitona da dimensão "X" acolá? Quem grita a plenos pulmões com a florista que arranjou rosas em dois tons de amarelo diferentes mas cujas diferenças são praticamente imperceptíveis a olho nu? Quem exige mais um brilhante Swarovski na cauda do vestido, porque há um ponto que não foi preenchido no meio de sete milhões e meio de brilhantes iguais? Quem stressa antes do casamento? Quem verifica a lista de convidados doze vezes por hora antes do grande evento? Quem quer fazer as mesas? Quem visita o local do evento quatrocentas vezes, liga para o padre um milhão e só passa mais tempo a cuidar do vestido da noiva que do seu próprio? Quem arruína com a paciência, os ouvidos e o bem estar de tudo quanto é empregado de mesa durante a festa, porque aquela mesa não tem pão ou esta não tem vinho?
A mãe da noiva.
A mãe da noiva, senhores, convenhamos, é o stress em pessoa. Precisa muito que aquele seja o dia perfeito na vida da filha. O dia perfeito que ela idealizou, ela realizou, ela levou a cabo... a noiva, essa, na esperança de ser deixada em paz para poder escolher o destino de lua-de-mel, escolher os móveis da casa nova e, acima de tudo, ter sossego na cabeça, acena que sim e deixa-se arrastar no rodopio de escolhas entre tecido creme, bege e uma cor que ninguém sabe definir.
A minha tia, a oito meses do grande evento, está completamente afectada pelo síndrome da mãe da noiva. Já não há nada a fazer. É demasiado tarde. Tudo começa muitos anos antes. Tomemos a minha mãe como exemplo. Ora a minha santa mãe, como muitas outras mães, ainda não teve de passar essa prova de fogo. Já foi a mãe do noivo, mas nunca foi a mãe da noiva. Mas isso não a impede de ir ensaiando. Cada evento que organiza, cada vez que recebe pessoas... é um stress.
O síndrome da mãe da noiva, para quem o quiser identificar ainda no seu estado embrionário, caracteriza-se pelo stress desnecessário antes de um evento. Limpar ou arrumar coisas que já estão perfeitas. Quatro dias antes do evento (na melhor das hipóteses) começa a passar-se com toda a gente por tudo e por nada. E ninguém a compreende. Ela não explica mas, ainda assim, ninguém a compreende. Confere dezassete vezes cada rissol, organiza os camarões em linha, depois em círculo, depois em linha, repete algumas (milhões de!) vezes que se não for ela a fazer as coisas, nada acontece... Aconselho vivamente às filhas (os filhos estão livres disto) de senhoras assim (que são 98%) o casamento em Las Vegas. Ou a solteirice eterna. Tudo, mas tudo, menos terem de conviver com o síndrome da mãe da noiva no seu estado mais avançado.
Bad, depois de um dia de extrema actividade familiar.