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Aqui há uns tempos, e por causa deste post, recebi um e-mail de uma leitora, que me alertava para o facto de a palavra "deficientes", no título, poder ferir algumas susceptibilidades e poder ser mal interpretada por quem lê. Devo confessar aqui, como fiz em privado à leitora, que havia pensado duas vezes, antes de escrever a palavra "deficientes". Mas foi uma coisa que me ocupou o pensamento durante pouco tempo. Porque não acho que sejam as palavras a marginalizar ou a maltratar as pessoas. Somos nós. É a forma como são proferidas essas palavras e o contexto no qual são utilizadas que magoam as pessoas. Sempre fui habituada a não pegar nas palavras "com pinças". Tenho um tio deficiente mental profundo. Durante toda a minha vida, a palavra "deficiente" foi utilizada com naturalidade. A palavra "coitadinho" é que me deixa p... da vida. E sempre achei que quem o trata por cidadão "portador de deficiência" está a cumprir uma norma. Para mim o cancro é cancro. Não é uma doença prolongada. E um preto é preto, não é uma pessoa de cor. Cor temos nós todos. Acredito piamente que o politicamente correcto das palavras não foi imposto à sociedade para salvaguardar e proteger as sensibilidades de quem as ouve, mas sim para limpar a consciência de quem as diz. Porque não é o facto de usarmos algumas palavras que faz de nós menos respeitadores das outras pessoas. É o facto de as palavras nos meterem medo, nos causarem repulsa, nos incomodarem. Se eu tenho que pensar duas vezes antes de falar de uma ou outra pessoa, não estou a ser honesta. Nem comigo nem com essa pessoa. Eu tenho um tio deficiente, tenho um amigo preto e a minha mãe tem cancro. Sempre disse isso, sempre fui habituada a tratar as coisas pelos nomes mais crus. Nunca disse que tenho um tio portador de deficiência, que tenho um amigo de cor e que a minha mãe era vítima de doença crónica, ou tinha um "mal". A sensação que me dá, ao ouvir estas palavras tão cheias de cuidado e tão pensadas e repensadas, é a de que a sociedade inventou o "socialmente correcto" para poder dormir em paz. Eu não sei se será bem assim, mas acho que, se a sociedade precisa de encontrar um termo para te definir e esse termo não é a primeira coisa que te vem à cabeça, então há algo que a sociedade precisa de corrigir. Eu tenho o maior respeito por todo e qualquer ser vivo e pelas suas dificuldades. Acho que as pessoas devem ser tratadas de forma diferente quando têm dificuldades. Por forma diferente entenda-se com civismo, solidariedade e respeito. Respeito esse que, aos meus olhos, está pouco relacionado com a escolha das palavras e muito relacionado com as nossas atitudes. E isso, sim, tem que mudar. Se eu achasse que a atitude da sociedade mudava por eu trocar a palavra "deficientes" pelo termo "pessoas portadoras de deficiência", já estava trocado. Mas não. Lamentavelmente, não.
Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!