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Da indignação

por Bad Girl, em 17.10.11
Pago impostos desde os 20 anos. Já lá vão 13. Trabalho, em média, 10 horas por dia. Às vezes não vou a casa. Às vezes trabalho ao Sábado. Outras vezes ao Domingo. Às vezes trabalho as mesmas vezes ao Sábado e ao Domingo. Feriados? Vou tendo alguns. Levo trabalho para casa algumas vezes. O telemóvel do trabalho toca a horas mais ou menos próprias, é-lhe indiferente.
Há 13 anos que pago impostos. Estive de baixa 2 vezes, num total de 2 meses e meio, em 13 anos de trabalho. Tenho um empréstimo para a casa. Já tive um para o carro. Nunca deixei uma prestação pendente. Tenho dois cartões de crédito. Só sei o código de um, o outro serviu-me para baixar o spread. A modalidade de pagamento é 100% a 30 dias. Devo usá-lo 4 ou 5 vezes por ano. Há países que eu gostaria de ter visitado. O plafond do meu cartão de crédito podia ter-me oferecido essa possibilidade. Nunca fui a esses países. Quando fui viver sozinha tinha apenas os móveis do quarto, cortesia de senhores meus pais. A cozinha já estava equipada. Comprei uma televisão de uma marca que não sei qual é, na Worten. Tive sofás mais de um ano depois. Fui sendo salva por um puff. A mesa da sala chegou 6 meses antes das cadeiras que a complementavam e uns bons 4 anos depois da mobília do quarto. Já estive tesa. Já vi o fundo à conta. Já recebi contas de telefone que quase me estragaram a vida. Multas que me estragaram o orçamento. Contas de mecânico que me abalaram os dias.
Trabalho pelo menos 10 horas por dia. O acesso ao Facebook está bloqueado durante o horário de trabalho. Não faço pausas para fumar. Não bebo café. Perco 5 ou 10 minutos, roubados à minha hora de almoço, para ver e-mails pessoais no meu telemóvel pessoal. E espreitar o Facebook.
40% da minha vida a pagar impostos. Se estou indignada? Claro que estou indignada. Estou indignada por mim, que não vou ter reforma. Estou indignada por mim, que vou ter o subsídio de Natal ceifado ao meio. Estou indignada porque não fiz nada para que a crise chegasse e ela está aí, a rir-se de mim. Estou solidária com toda a gente que vai perder direitos, meios de sobrevivência. Que não pode comprar móveis para a casa porque precisa de comprar comida. Mas a minha indignação não vai resolver o problema do qual eu nunca fiz parte. A minha indignação é legítima, mas é solução para nada. Não nos* enganemos. Não viemos parar a esta situação por casualidade, mas sim por causalidade. Viemos porque votamos nas pessoas erradas. Ou porque não votamos. Porque nos iludimos com um plasma, uma viagem, um carro. Estamos aqui porque somos um país habituado a viver acima das suas possibilidades. Porque assinamos papéis em bancos com a mesma veleidade com que não vamos votar. Estamos indignados porque nos meteram a mão ao bolso. Estamos indignados e temos o direito à indignação. Eu não tenho uma solução para a crise. Não faço a mínima ideia de como sair deste buraco que fomos escavando e fomos permitindo que escavassem. Não tenho ideias melhores. Nem piores. Não sei se estas ideias que nos apresentam são as melhores. Ou as piores. À falta de outras, vou confiando nestas. Não estou conformada. Mas a minha indignação é mais com as circunstâncias do que com as medidas. Por ora.
Se tudo correr como eu espero, esta é a última vez que este tema é abordado directamente neste blogue.



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Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!

 

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