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Toma as gotas, Manel

por Bad Girl, em 08.06.12

Quando eu era miúda, mudamos de casa. Os meus pais compraram um terreno barato a uma tia da minha mãe e, durante mais de dois anos, canalizaram todo o dinheiro para a construção da casa de sonho deles. Na rua onde ainda hoje moram os meus pais, na altura, não havia grande coisa. Havia mais duas ou três casas, espalhadas aleatoriamente pela rua, um prédio que pertencia à tal tia da minha mãe, com quatro ou cinco arrendatários, e pouco mais. O dinheiro de uma vida, investido numa casa, foi dando para alguma coisa. Um piso térreo com cozinha e sala. Um primeiro andar com quartos. E um sótão, onde se realizaram festas de pijama, festas de anos, maratonas de estudo...

Quando nos mudamos, não conhecíamos ninguém na rua. Uma semana depois de lá vivermos, uma inquilina da minha tia queixou-se que a sobrinha dela tinha construído uma casa tão alta que lhe tapava o sol. Que não estava certo. Pouco tempo depois disso, eu ia a sair para as aulas e uma rapariga, aí com os seus dezoito anos, olha para mim e diz à mãe, bem alto: "uma casa tão bonita com uma macaca tão feia a viver lá!".

Vivi naquela casa dos 9 aos 25 anos. Durante esse tempo, foram crescendo, à sua volta, prédios, casas, lojas, tudo. Não me lembro muito frequentemente das duas histórias que conto acima. Mas ontem, quando ouvi Manuel José dizer "com um país que tem quase 16 por cento de desempregados, têm carros à porta para se irem embora para casa. Aquele aparato de carros de 250, 300, 400 mil euros ali à porta... Aquilo são pessoas que vivem num mundo irreal. Se vivem num mundo irreal, quem comanda tem de os chamar à pedra e tem de lhes indicar que é preciso respeitar as pessoas mais pobres. Aquilo é uma ofensa às pessoas mais pobres.", foi exactamente nisso que pensei. Porque a mesquinhez e a inveja daquelas pessoas que nos atacaram é exactamente a mesma que mostrou ter aquela criatura que nunca conseguiu ser nada em Portugal (uma Taça e uma Supertaça são conquistas ridículas, quando se acha ter tanta supremacia), e que se acha o Mourinho de África, ao dizer isto. À dele juntou-se a voz de Carlos Queiroz, outro ressabiado, outra "eterna promessa", outro "génio subvalorizado". Os jogadores não vivem num mundo irreal. Vivem no mundo real onde o dinheiro que eles ganham lhes permite viver. Eu tenho um carro mínimo, um T1 e levanto-me todos os dias às sete de manhã para ir trabalhar. Fico no trabalho, pelo menos, 10 horas. Quando regresso a casa trago o computador e trabalho um pouco mais. Se gostava de ter uma casa de 1 milhão de euro, trabalhar menos e ganhar mais? Claro que gostava. Também gostava de ir à Costa Rica e de dar uma volta ao mundo. Mas não posso. Se fico magoada ou ofendida por haver quem possa? Não fico. Se me choca que haja uma taxa de desemprego vergonhosa neste país? Choca-me. Se vou mudar a minha vida para não ofender os desempregados? Não. Se vou comprar menos sapatos porque há desempregados? Não. Se vou viajar menos porque há muito desemprego? Não. Achar que os jogadores têm de limitar a sua vida para não ofenderem o país é fraquinho. Mesmo no campo da demagogia, é uma coisa assim para o mau.

 

Esclarecimento 1º:

Não tenho, nem nunca tive, pêlos espalhados por todo o corpo, incluindo a cara. Não cato piolhos da cabeça e não sou, nem de perto nem de longe, parecida com um símio.

 

Esclarecimento 2º:

Todo este sururu em volta da selecção, transmissões em directo, saber o que comem, a que horas acordam, se passearam de carrinho de golfe, o que pensam as mulheres, as mães, os amigos, se saíram de Portugal com atraso, a que horas chegou o avião e se está frio lá em Opalenica também me irrita. Acho demasiado, maçador, desinteressante e até um bocadinho parvo. Mas é como a "Casa dos Segredos" - se insistem no tema é porque ele interessa a alguém. Se não fosse o "circo", ninguém ia pedir opiniões a Manuel José. E ele não ia poder reclamar do circo. Chega a ser curioso, não?  



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Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!

 

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