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Nos idos de Março de 2009, aquando do convite para viver em pecado com MQT, Bad apresentou as suas condições:
- Alguma coisa relacionada com espaço de arrumação de roupas/ sapatos e carteiras
- Alguma coisa relacionada com arrumação da casa.
- Algumas outras coisas relacionadas com outras coisas.
- O cão. Era preciso adoptar um cão. Temente do tipo de cão que fosse coabitar com ele (eu gosto daqueles cães amarelos com pêlo palha de aço e relativamente feios, caso houvesse algum cão feio), MQT espeta-me com um pintas em casa. Como eu tenho uma coisa pelos underdogs, ele trouxe o cão mais subnutrido e mais miserável do canil. O bicho era um monte de ossos com uma pele branca com pintas pretas por cima. Com 2 anos, segundo o canil, pelo menos 4 anos, de acordo com a primeira veterinária e seguramente 6 anos, segundo a outra veterinária (é difícil ver a idade de um cão, quando a dentadura deste está completamente desfeita), o dálmata pesava 12 quilos. A expressão "magro como um cão" foi inventada quando olharam para ele. Não se sentava, magoado pelos ossos. Escondia-se quando ouvia barulhos. Vítima de maus tratos, odiava outros cães, pois a eles associava a luta pela sobrevivência. Adorava sacos de plástico, pois era esse o barulho que lhe garantia comida, quando vasculhava no lixo. Devido à sua excessiva magreza, a veterinária sugeriu-nos que o engordássemos antes de fazermos vacinação e chip.
Absolutamente psicotico, Sr. Pintas entrava em pânico ao som de foguetes ou de trovoada. A solução era fugir, quanto mais rápido e para mais longe, melhor. Estava nesta casa há menos de dois meses quando MQT partiu em viagem de trabalho e D. Cão furou por entre as grades para fugir. Corri a cidade, mandei e-mails de alerta, desesperei. No dia seguinte, a chamada do canil. D. Cão lá estava, a fazer amigos. Feliz (e um bocadinho zangada, é verdade), lá fui eu buscar o dito. Sem apelo nem agravo, o veterinário do canil não foi de modas: só dali saía de chip e vacina, fosse magro ou não. Paga a vacina, o chip e a noite de alojamento, lá me foram adiantando que havia de receber uma carta da Direcção Geral de Veterinária, shame on me, pessoa negligente, com notificação de processo de multa. A tal da missiva não se fez esperar muito, dois meses depois lá estava ela, a comunicar-me que eu, infractora, incorria numa possibilidade de coima entre os € 50,00 e os € 3.740,00.
Vamos fazer um pequeno resumo dos acontecimentos:
1 - Pessoa adopta cão subnutrido e arranca-o do corredor da morte
2 - Pessoa respeita indicação de veterinária e decide compor a fisionomia do cão antes de o martirizar com picadelas várias
3 - Pessoa entra em pânico porque vê que o cão fugiu, vira a cidade ao contrário e, com sucesso, recupera-o
4 - Pessoa leva cão para casa pagando tudo quanto lhe cobram, acede a deixar que o cão seja picado, ainda que magro demais para isso, só para garantir que nada daquilo voltaria a acontecer
5 - Pessoa recebe carta a informar que fez tudo mal e, por isso, tem de pagar uma multa.
Este país deixa pessoas abandonarem animais na estrada, aceita que as pessoas se recusem a ir buscar animais, após leitura de chip, não tem moldura penal para quem maltrata animais. Eu, porém, podia vir a ser multada.
Em Junho lá fiz chegar à DGV a minha defesa, devidamente suportada por documentos da veterinária e da associação de animais que nos levou a conhecer D. Cão.
2009 chegou ao fim. 2010 apareceu. E acabou. Logo veio 2011, que também passou. Mudou o governo. Da DGV nada. Chegou 2012. Hoje, 3 anos e mais ou menos dois meses após eu ter apresentado a minha defesa aos senhores da DGV, a resposta. 6 páginas de uma missiva cheia de palavras rebuscadas, acentuação errada, pontuação mal aplicada, decretos de lei que não acabam, o veredicto...
Fui ADMOESTADA. Assim, em maiúsculas. A DGV mandou-me uma carta, enorme, com uma ADMOESTAÇÃO. O cão, esse, infelizmente morreu no Verão de 2010. Com um peso razoável, sem medo de barulhos estranhos, e após destruir várias portas e armários em noites de trovoada, D. Cão não resistiu a uma torção gástrica. Era um tonto que vivia feliz, jogava à bola e brincava com tudo o que caía ao chão. Custa-me ter uma carta que, três anos depois, me ADMOESTE e que dite uma acção negligente da minha parte. Custa-me, também, que haja por aí tanto bicho a ser abandonado, maltratado e negligenciado e que recaia sobre mim um processo, agora arquivado, que leva alguém a escrever uma ADMOESTAÇÃO (assim, em maiúsculas) de 6 páginas, no âmbito do mesmo.
Em tendo tempo, digitalizarei o documento, vão ver que é um prazer ler tal obra literária. Até lá, fica a minha indignação.
Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!