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Cartas ao Presidente

por Bad Girl, em 05.10.12

Quando escrevi a carta ao PR e a publiquei aqui, falei das minhas preocupações. A Nádia partilhou a carta que fez chegar ao PR e ao PM com as preocupações dela, a dor dela, comigo.

E eu não posso fazer nada. E dói-me não poder fazer nada. Saber de tantas Nádias. Saber que eu própria, um dia, posso ser uma Nádia. Desejo à Nádia que tudo corra pelo melhor. Sei que não é possível. O melhor não acontece neste país. E o bom que ela encontrará lá fora não é suficiente para compensar a dor de partir.

 

Partilho aqui a carta. É o mínimo que posso fazer, sendo isto absolutamente nada.

 

"

from:  XXXXXXXXXXX
to:  belem@presidencia.pt,
 pm@pm.gov.pt
bcc:  badgirlsgoeverywhere@gmail.com
date:  Thu, Oct 4, 2012 at 12:21 PM
subject:  Senhor Presidente da República e Senhor Primeiro-Ministro, estou de saída.



Senhor Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva e Senhor Primeiro-Ministro, Dr. Pedro Passos Coelho,

Venho desde há um tempo para cá sentindo uma sensação equivalente à de quem é posto na rua pela família.
E depois, para onde é que se vai?
Para outra casa. 
Será que me faço entender?
Ao projectar o meu futuro, tive sempre em consideração a minha família e o meu país. E, quando me sugeriam que fosse para outro país, advogava imediatamente que não me ia embora sem tentar fazer alguma coisa aqui, onde nasci, onde cresci. No meu (?) país. Não ia, sendo ainda jovem, assumir que não há nada a fazer e ir-me embora. E na realidade o que eu queria era ficar, e criar o meu próprio emprego (sou uma rapariga cheia de ideias e projectos) e criar emprego a para outras pessoas.
Mas não nasci numa família que me permita grandes investimentos. E a banca também não está muito simpática para financiar as ideias/projectos de ninguém. Os Senhores sabem disso, não é?
E como é que eu vou vender um produto/serviço se não há capacidade financeira para mo comprarem?
Pois. Eu não sei desta resposta. 
Tenho passado noites à procura dela (mesmo, sem dormir). Mas não consigo formular a frase de resposta.
Os Senhores podem ajudar-me?
Agradeço.
Licenciei-me em Gestão de Recursos Humanos e desde cedo fui tomando consciência que o paradigma do emprego está a mudar e, as aulas de economia convergiam com o meu pensamento sobre o papel do Estado na sociedade; não podemos estar sempre à espera da intervenção do Estado para tudo.
Ora, acontece que vejo o Estado, o Governo a intervir. Muito. E o resultado é desastroso.
Chamo-me Nádia, tenho 25 anos, sou casada, tenho uma filha. E Estou de saída.
Todos os dias sinto uma amargura de quem está a ser obrigada a fazer uma coisa que não quer. Mas não é ser contrariada num mero capricho. Apercebo-me de que me estão a obrigar. E não imaginam os Senhores a tristeza que isso me causa.
Os Senhores são os responsáveis por eu ter de sair do país, e estar longe, muito longe do meu avô (que me criou com a minha avó desde os meus 18 meses) que já teve dois cancros e um AVC e está agora com a doença de Parkinson; da minha avó, que precisa de mim. Do meu Pai, das minhas irmãs.
Eu até poderia querer estruturar a minha vida assim, num outro país. Mas isso tinha de ser uma decisão m-i-n-h-a. 
A minha filha terá de crescer longe dos bisavós, dos avós, das tias. 
Porque eu não quero que ela chegue à minha idade e passe pelo mesmo que eu.
Licenciei-me em 6 anos, numa Licenciatura de 3. Porquê? Porque acreditava no que estava a aprender, porque acreditava que poderia dar um futuro melhor à minha filha/família e contribuir com o exercício do que aprendi para um país onde as pessoas deviam querer estar.
Hoje (ontem e no dia anterior; antes desse dia e durante o último mês, e no anterior...bem fazendo as contas, há muito, muito tempo) estou à procura de trabalho.
Não encontro.
Nem com habilitações, nem sem habilitações. Não encontro.
Menos rendimento > menos consumo > menos produção > menos emprego > menos rendimento > menos consumo > menos produção > menos emprego >...

Conseguem os Senhores explicar-me onde é que este raciocínio está errado?
Como é que eu posso continuar a viver em Portugal? Dizem-me os Senhores a resposta?
Chamo-me Nádia, tenho 25 anos. Estou desiludida e revoltada. E, caso os Senhores não façam alguma coisa para eu poder ficar: Estou de saída.
Sem mais,
Nem menos,
Nádia"

 

Um beijo, Nádia.

E boa sorte.



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Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!

 

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