por Bad Girl, em 06.03.13
Antes de mais, quero dizer que não conheço Pedro Bidarra. E esse será, certamente, um problema meu. Já lhe li algumas coisas, conheço-lhe a polémica da CP e da senhora que queria ser sua mulher-a-dias. Não me desmerece consideração a sua opinião neste artigo, mas merece-me um encolher de ombros e um abanar de cabeça, tão desalentado pela visão empobrecida com que olha para o novo vídeo do Turismo de Portugal. Não sou partidária da generalidade das acções do Turismo de Portugal, e acho muitas coisas (a maior parte não são boas) sobre a instituição em si. Algumas delas já tive oportunidade de partilhar aqui.
Diz-me a experiencia que o mal está quase sempre nos olhos de quem vê, e parece-me que o seu artigo na Dinheiro Vivo, seguido de pequenas réplicas pelas redes sociais fora é uma ofensa sobredimensionada e mal aplicada.
Estou ligada ao Turismo (ora de forma directa, ora de forma indirecta) vai para 17 anos. Se há coisa que eu sei, que não mudou e que será sempre uma verdade absoluta nessa área, mais do que em outras, é que é um negócio de pessoas. Não se enganem com tretas de infra-estruturas, paisagens, comida e outras coisas. Pessoas. O Turismo é um negócio de pessoas.
Não é para comer que as pessoas cá vêm. Portugal tem UM restaurante no
ranking dos 50 melhores do Mundo. Está em 45º lugar. A nossa comida é boa, sim senhor. Mas é de restaurantes portugueses que o mundo está cheio? Não me parece.
Não é pelo Património que as pessoas cá vêm. Portugal tem catorze sítios declarados pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade.
Está em 18º lugar. Espanha, aqui ao lado, tem 44…
Para a prática do ski também é o que se sabe, não vamos lá das pernas.
Não percebo, francamente, a “ofensa” generalizada. Certamente não entendo a repudia do Sr. Bidarra. Que acha que a Ana é uma rameira. Não sendo uma classe com a qual eu prive particularmente, parece-me difícil que, depois de "usar" a rameira, se feche com um "friends for life". Depois reclama que Avillez está a servir à mesa. E eu faço um daqueles esgares críticos, um misto de reprovação e de pena. Os Chefs, os bons, vão à sala falar com os clientes. Faz parte do trabalho deles. Parece que é uma coisa daquilo das relações públicas e de receber feedback do seu trabalho, ou isso. Quanto à senhora que se enrolou, diz o Sr. Bidarra, com o senhor do golfe, um bocadinho mais de atenção e daria para ler as coordenadas da mesma. Ela é de... Portugal. A senhora mudou de país por amor. Eu conheço gente assim. Que se enrolou com alguém que conheceu nas férias, no Erasmus ou até na internet, e que mudou de vida e de país. Se calhar tenho mais mundo, deve ser isso. E o senhor António, que dobra as toalhas e as camisas? O Ritz tem-nos. Chamam-se Floor Managers e encontram-se nos Four Seasons desta vida, por exemplo.
Portugal é conhecido pelo seu povo hospitaleiro. A Ana não é uma rameira, certamente. A Ana pode muito bem ser a filha do leitor do Dinheiro Vivo, sim. A Ana é uma miúda que tem orgulho na sua cidade, que a conhece, e que a mostrou a uns estrangeiros que cá vieram. Não conte isto à Associação de Guias Interpretes de Portugal, Sr. Bidarra, mas isto acontece. E não envolve, necessariamente, a alcova. Lá estará, certamente, a interpretação, nos olhos de quem vê. Não somos criados, não somos servis. Somos hospitaleiros. Afáveis. Acolhedores. Somos corteses. E isso não está errado. É uma mais-valia que não se compra. Não se manda fazer. Não se ensina. A haver alguma coisa de errado com o filme (aos olhos de quem o vê, neste caso, eu) é o facto de ele existir. Não porque faz de Portugal um país de criados ou porque faz de nós umas rameiras e uns gigolôs. Mas se ele existe foi porque alguém achou necessário lembrar ao povo português para ele ser ele próprio. E isso não é justo.
O "humilhante" e "ofensivo" vídeo: