por Bad Girl, em 11.10.13
Vocês achavam que isto estava a correr muito bem, que o bicho estava mais para lá do que para cá, a pedir clemência de tanto levar na boca ridícula que tem, e já me imaginavam em braços, vitoriosa, a pegar no bicho pelo rabo e a rir-me ironicamente. É natural que vocês achassem isso. Eu também. Até há coisa de dois dias, quando me anteciparam a consulta de fim de ciclo e me disseram que viesse preparada para um possível internamento. Acrescentaram um delicioso "mas não fique alarmada", o que me fez ficar imediatamente relaxada e zen, claro. Se calhar têm um produto novo ao nível dos alojamentos, que pretendem que eu experimente, vamos lá a isso e sem alarmes nenhuns.
Posto isto, e como não quero alarmar-vos, cá salto para o "actualmente" da história, que está a ser escrito de uma cama do IPO, onde me encontro internada. Alarmados? Não fiquem... Conto-vos uma espécie de uma graçola para aligeirar o ambiente: hoje, na consulta, a médica já não me disse para não engravidar. Mas internou-me, que isto nunca confiando nas marotas das pacientes. E uma ironia que, não sendo das mais finas que o universo tem para oferecer, não deixa o ser: estou na mesma cama em que a minha mãe esteve em Maio. Suponho que os lençóis sejam outros.
Adiante, ao que interessa: nos primeiros tratamentos tudo muito bem, porradinha no bicho, já se sabe, no segundo round o bicho começou a ripostar. E nós isso não queremos. Vai daí, toca a dar mais drogas à Bad, chamemos-lhe "dose equina" e - muita droga, muito tempo - ficas aqui internada para levar com ela em bom. A coisa acaba amanhã, sendo que acabar é uma liberdade poética minha, pois adivinhem lá de onde vos escreverei daqui por duas semanas? Uma pista: tem drogas. Quem respondeu "casa do Maradona" não esteve, claramente, atento ao post. Quem não esteve atento até agora também não vale a pena maçar-se, o que vem a seguir não é a melhor parte.
Hoje escrevo-vos chateada. Sim, hoje fiquei chateada (fodida, mesmo), já chorei um bocadinho (três ou quatro bocadinhos, vá), já achei que não ia aguentar esta merda, agora que o tratamento é a doer e vem com todos os "brindes" que eu não queria (suponho que não há quem queira, mas o post é em meu nome, não vou falar pelos outros). Já perguntei "porquê eu?", mas depois pensei "porque raios não eu?", a puta da doença não escolhe só os mauzinhos, isto não são medalhas de demérito, por isso tens duas horas para te fazer mulher e deixar-te de mariquices, que já viste que nem um buldogue francês consegues por te armares em maricas pé de salsa. Cansada. Hoje estou cansada de ter força, sei que é isso que esperam de mim, eu própria espero isso de mim, hoje fechei o consultório, não vou estar com paninhos quentes e preocupar-me em dar força aos outros, que se foda tudo só por um bocadinho, amanhã quando sair daqui logo volto a ser eu, e ainda vos relato o experiência que é partilhar o quarto com três velhas, duas a dormir (é o equivalente a estar numa fábrica de testes da Zundapp) e outra a queixar-se, a chamar Jesus e a reclamar com as enfermeiras que está cheia de dores e que ninguém a ajuda. Sendo que a única pessoa que ela chamou foi Jesus, esse, eu confirmo, não apareceu.
Bem, que seja uma noite curta para mim, sim? Os que puderem sair por mim, façam o favor de se divertir. E façam o amor, por favor, vocês façam o amor sempre que puderem, que é para compensar os que estão internados e não podem. Nesta enfermaria devo ser só eu a queixar-me disso, presumo.