por Bad Girl, em 20.08.14
Mal tínhamos saído de casa, ainda na dita civilização, quando me apercebi que não trazia livros e disse-o em voz alta. Podíamos voltar para trás, mas saímos para umas férias descomprometidas com uma carrada de compromissos:
- Tenho livros no iPad, disse MQT para compensar a minha falha.
- Não sei ler livros sem folhas. Compro na estação de serviço.
Não sei, nunca soube. Gosto quase tanto do folhear como de saborear as palavras e as tecnologias não me vão roubar isso. Desde o momento da compra, passando pelo momento em que arranco cuidadosamente o autocolante com o preço, que isso os livros não deviam ter preço, até ao momento final em que o fecho, já lido, e o viro frente e verso, verso e frente, à medida que o processo dentro de mim.
Adiante, como um condutor atraído pelo acidente que aconteceu no outro lado da estrada, sabendo que não deve mas TENDO de olhar, assim me encontrei eu diante do livro 'A culpa é das estrelas' que só conheço porque deu filme, um filme que não me apetece ir ver porque não quero chorar como uma Madalena no cinema. E lá estou eu, no primeiro dia de férias, a mãos com um livro que respira cancro por todo o lado. Eu, que tive as férias do ano passado semi-estragadas por causa de um cancro, a afundar-me em letras e mais letras que celebram, satirizam, choram e vivem de cancro. Um dia e meio, até ao momento em que fiquei, de nó na garganta, a virar o livro, frente e verso, verso e frente, durante uns bons dez minutos. Ontem fomos à cidade e comprei mais um livro. Depois de, claro, ter descarregado os emails e de me ter ligado ao mundo por duas horas. Em nenhures não há nada que me tolde o pensamento, e todas as coisas que acontecem têm de ser absorvidas na sua totalidade. Já no carro apercebi-me que o último livro do MEC, aquele que eu trazia comigo, ainda com o autocolante do preço, não ia falar de muito mais coisas do que... Cancro. Enfim, hoje de manhã tirei-lhe o autocolante e comecei a lê-lo. E não é sobre cancro, ainda só li 44 páginas mas sei que é sobre a vida. Respirei de alívio. Isto sim, é uma coisa que me apetece absorver.
(Escrito a 19.08 e publicado quando for à cidade)