por Bad Girl, em 20.08.14
Que nos apareceu ontem à noite, certamente hipnotizado com o cheiro do churrasco. Primeiro vi-lhe as orelhas, timidamente escondidas atrás de um banco de jardim. Depois espreitou, curioso. E eu, que levo os dias a enxotar abelhas, besouros, louva-a-deus, moscas e outros bichos, tentei que este fizesse o movimento contrário e viesse. Por uma questão de segundos o seu ADN levou a melhor e ele deu dois passos na minha direcção. Depois correu como um homem de negócios que se apercebeu que estava a cinco minutos das três e que a reunião das três era a mais de meia hora dali. Não ficou longe, o gato Migas*. As orelhas dele foram uma constante durante o nosso jantar. A medo, veio buscar os restos que lhe deixamos a uma distância de segurança. Primeiro pegou num pedaço e foi comer longe. Depois num outro pedaço, este comido já a meio do caminho. Ao terceiro pedaço rendeu-se, e deixou-se ficar. Fugiu apenas quando lhe levei uma tigela de leite, que esta manhã estava vazia. Agora que está calor não apareceu, mas logo à noite julgo que vamos repetir o ritual. O Migas é como a nossa pessoa preferida num livro: enquanto estivermos aqui, vamos viver deste namoro, destas aproximações e afastamentos, destas simpatias e pequenas vitórias. Quando formos embora, viramos as costas ao Migas como se do final de um livro se tratasse: neste final ele foi feliz. Só podemos esperar que ele continue, mas não depende de nós. Porque nós não estamos a escrever esta história. Somos apenas personagens. Para o Migas, secundárias.
* Migas porque aqui em nenhures não há rede e não podemos ver as pessoas no Facebook a escreverem "Então, miga, que se passa?", ou "Tenho muitas saudades tuas, miga!".
(Escrito a 19.08, publicado quando Deus Nosso Senhor nos der rede)