por Bad Girl, em 22.08.14
Em ideia, é muito bonito isto de nos isolarmos algures em nenhures, sem ligações ao mundo que, lá fora, corre à velocidade de milhões de caracteres por segundo. Assim à distância, enquanto aspiramos e suspiramos por umas férias, a 'nenhurozidade' da coisa só lhe acrescenta glamour. Somos nós e uma ideia de paz, de descanso, de isolamento consciente. Temos (apenas é só) cabo, mas a velocidade dos dias não se compadece com os horários rígidos dos patrocinadores. E, mais a mais, a televisão foi tomada de assalto pelos adolescentes que não se conformam com a ausência de mundo exterior. Para os adolescentes, se não há contacto com o mundo exterior, então não há mundo exterior, certo? A adolescência traz-lhes a falsa ilusão de que o mundo pára quando lá não estão, mas isso há-de passar-lhes. Não prometo que seja indolor, mas garanto que passa. Adiante, que os adolescentes não são meus e são tão interessantes como quaisquer adolescentes, pouco há a acrescentar ao que já foi escrito.
Em nenhures, dizia eu, o tempo passa devagar. Dorme-se até tarde, numa clara provocação à vida que se viveu antes em nenhures, cheia de alvoradas madrugadoras. Lê-se. Passeia-se da mesa para o jardim, do jardim para a piscina, da piscina para o jardim, do jardim para a mesa, da mesa para a rede, da rede para a cama. Cheia de rituais, a vida em nenhures. E checa-se o telemóvel. Uma e outra vez. Celebra-se a aparição de rede, a chegada de uma corajosa, aventureira e solitária mensagem, e até a mudança da hora e de fornecedor de rede, que resulta da curta caminhada do alpendre para o jardim. O tempo passeia-se tão melado que, por vezes, achamos que uma hora mais tarde é agora, não lemos 'Orange' no canto superior esquerdo do telemóvel e achamos que é tarde. Depois encolhemos os ombros por não ser tarde para nada. Nenhures é bom, mas creio que seja em doses homeopáticas. Resta saber se prescrevemos a dose certa. Por ora não está mal.
(Vinte. Vinte foram as estrelas cadentes que vimos passar).
20.08.2014