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Está bem, é só como quem diz. Não desalojei os glúteos do sofá durante todo o processo, mas pronto. Eu explico: se há prova de amor que eu posso dar é grunhir um "Não, vê lá isso...", quando o MQT pergunta, comando na mão e olhos expectantes pousados em mim: "Importas-te que eu veja só um bocadinho da Fórmula Um?". O bocadinho estica-se estupidamente por horas, dias, semanas. Não é tanto, mas parece-me. São carros a correr à volta de uma pista, porra. Carrinhos que nem sequer podem ser usados na rua! E a chinfrineira que aquilo faz... não percebo o interesse, mas enfim, vamos seguir com isto. Ora se na prova do Mónaco a única coisa que me sacou algum entusiasmo foi reconhecer a namorada do Hamilton, ontem, na prova do Canadá, a emoção foi toda outra. Porque descobri que aquilo é tudo uma mariquice. A coisa já não me tinha soado lá muito máscula quando vi os tipos no Mónaco a aquecerem os pneus dos carros. Mas ontem é que eu percebi que a coisa era do mais amaricado que podia haver: há senhores que abanam bandeiras. Estão ali a abanar bandeiras. Ora azuis, ora verdes, ora amarelas. Parecem cheerleaders. E os senhores, do tal desporto de homens, não correm com chuva. Quase duas horas a ver se a chuva passava para voltarem ao trabalho. Olha se eu me recusava a guiar com chuva e não ia trabalhar? Era um fartote. E que paneleirice é aquela de porem um carro, um tal de "Safety Car" (o único carro à séria, by the way, a interromper a corrida? Corrida o tanas! Não percebo que raio de corrida é aquela em que os tais carros, que é suposto correrem, são obrigados a seguir ordeira e calmamente atrás do tal "Safety Car". Ah, chegam a atingir 300 quilómetros por hora. Pois chegam. Quando não são obrigados a usar os pneus não-sei-quê, ou quando não chove, ou quando não está a cheerleader a mostrar a bandeira amarela, ou quando não estão sob investigação. A sério, aquilo é um desporto de homens: se um dá um toque e o outro se lixa todo, ganha quem se safou. Deixem-se lá dessas tretas. Se eu vou ser obrigada a ver corridas, então que o sejam, está bem?
E que treta é aquela de terem de desmontar o carro para conseguirem sair? Que raio é aquilo? A Legoland?
Depois de ter apontado o dedo a (quase) todos os colegas dos J.O., a Vanessa consegue ser novamente a ovelha "ranhosa" (não, para ter ronha é preciso ter-se discernimento, e não me parece que ali haja disso). Apanhados com a pergunta "É a favor do casamento homossexual?", a postura dos homens do futebol é quase unânime. Devo assumir que não deixei de ficar surpreendida com tanto à-vontade com o tema. Excepção feita a Jorge Jesus que, do alto do seu ar de marialva põe as mãos à cabeça em jeito de desespero e agradece à voz que o salva da pergunta. Já fora das quatro linhas, só a Vanessa é que é contra. Ela já tinha mostrado que era intolerante. Com isto só põe a cereja em cima do bolo. (E eu até podia fazer aquela piada de: "um gajo para comer a Vanessa não tem de gostar, pelo menos um bocadinho, de homens?". Mas não faço. Não hoje.).
Vocês devem ter um bocado a mania, não? Quem? Vocês. Sim, vocês, aqueles que estão para aí constantemente a cortar na casaca dos atletas portugueses que foram aos jogos Olímpicos. E que não ganharam porcaria nenhuma. Excepção feita, por enquanto, à Vanessa Fernandes. Mas pronto, vocês, que vibraram com a ida dos Lobos rumo a três derrotas seguidas, que lhes escreveram homenagens e enalteceram a capacidade deles perderem "só" por muitos a muito poucos. Que foram receber a Selecção com honras de estado por terem conquistado um 3º lugar no campeonato do Mundo. Pronto, já sabem quem são? Podemos continuar? Então, para bingo, que isto é uma coisa que me agasta imenso. Para começar, eu não percebo nada de J.O. Nem gosto. Nunca achei piada. Para mim, ver desporto implica que haja 11 jogadores para cada lado, uma equipa de arbitragem e 1 bola. Fazer desporto é coisa que não me acontece desde que terminei o secundário. Excluindo o sexo, obviamente. A somar a isto está o facto de ESTES J.O. estarem a acontecer num país cuja prepotência e desrespeito pelos direitos humanos eu abomino. Assim sendo, faço o meu boicote, e nem sequer me dou ao trabalho de espreitar qualquer prova que esteja a decorrer (mesmo que eu fizesse muito gosto, aquilo dá a horas pornograficamente proibitivas). Incontornável é levar com os comentários de jornalistas, cidadãos anónimos e treinadores de bancada com quem me cruzo. Quando começamos a deixar de ganhar coisas (lá está, primeiro erro deste nosso povo: o acharem que nós estamos a perder coisas quando, na verdade, estamos apenas a não ganhar) eu achei muito bem. Pensei, cá com os meus botões: "esta malta tem princípios. Boicote aos Jogos NOS Jogos. Fabuloso. Já os estou a ver no final disto tudo, chegarem a Portugal com matching shirts a reclamar a libertação do povo tibetano. Achei lindo! Depois veio a Vanessa e fodeu aquilo tudo. Como os putos tinhosos do fundo da sala no Liceu, que se cortavam à força toda quando combinávamos fazer gazeta geral com a desculpa "ah, que os meus pais pagam é para eu vir às aulas!". Decidi ir à procura das ditas desculpas que tanto chocam este povo, que é constantemente comido por lorpa pelo governo, mas pendura-se no orgulho desportivo nas fases finais. Há alguém, no meio das pessoas que atiram estas pedras, que siga a carreira de algum destes 77 atletas fora dos Jogos (vá, familiares, toca a baixar os braços, que isto não é para vocês!)? Não estou a falar de ler no jornal que eles ganharam. Estou a falar de saberem por onde andam, se se lesionaram, se têm patrocinadores, como é que fazem para coordenar os outros empregos com esta actividade. Pois, mas sabem que carro tem o Simão Sabrosa ou o nome do osso que o Cristiano Ronaldo magoou ou partiu, ou o raio que o parta. Eu também não sei nada da vida da Vanessa, ou da Telma, ou do Fortes. Sei algumas coisas de bola. A diferença é que EU não me julgo no direito de estar a insultar estas pessoas que, bem ou mal, foram à China representar-nos. Agora as desculpas:
Telma Monteiro queixou-se dos árbitros. Vou contar-vos um segredo: no país onde ela vive os protagonistas do desporto que é rei e senhor não passam uma mísera semana sem se queixarem dos árbitros. "Everybody else is doing it, so why can't she?". Nunca vi o povo queixar-se. E agora, dizem que é desculpa esfarraparada. Por seguir as tradições de todo um país, 4 valores.
Marco Fortes foi sincero. Provavelmente foi um tanto ingénuo na tentativa de ter graça. O fuso horário fê-lo esquecer-se que, no país dele, as pessoas não têm um sentido de humor por aí fora. Ele disse: "Cheguei à conclusão que de manhã só estou bem é na caminha.” E eu desafio: que me apareça aqui uma única pessoa que seja que nunca tenha dito isto ao chegar ao emprego. Eu digo isto quase todos os dias. No meu emprego. À frente de quem manda. Nunca ninguém me disse que eu estava a ser pouco profissional. Podem achar que eu tenho sono ou que ando a dormir pouco. Ou até que sou preguiçosa. Mas má profissional? A única coisa que falhou aqui foi o facto de ele usar a palavra "caminha". O homem é um bicho. Uma caminha não chega. Apesar da pequena falha, este homem tem 5 valores. Por levar o funcionalismo público português além fronteiras. Não passam a vida a dizer que os nossos impostos é que lhes pagaram a ida a Pequim? Pois bem, melhor do que isto é impossível.
Depois há aquele outro do judo, que aproveitou para vingar-se da dor de corno. E haverá coisa mais legítima do que defender a honra? Onde estão os machos latinos que pegam em machados para matarem as mulheres e os supostos amantes que, afinal, "desculpe lá que me enganei, o senhor afinal era o médico dela"? Neste País onde se lava a roupa suja em público? Onde as VIP (ahah) vão às revistas contar como os maridos lhes batiam, as traíam? Revistas essas que esgotam ao segundo dia? Porque não apoio vidas privadas tornadas públicas, mas aceito que a dor de corno nos põe cegos, 3 pontos.
E a égua? Até o pobre animal foi acusado de fingir um "chilique"? O animal entrou em histeria, so what? Não pode, queres ver? Aquilo é gente que come cães. O que é que eles não farão a uma pobre égua? Ela teve medo, pois teve. E depois, as pessoinhas que andam para aí a gritar aos quatro ventos que a gata lá de casa teve uma gravidez histérica, começam a criticar a pobre égua. Ela não fingiu uma gravidez. Assustou-se. Teve medo. E isso é legítimo. 4 pontos.
E a Vanessa, no meio disto tudo? Lá veio ela vociferar duras críticas aos seus colegas de viagem (pelo menos eu acho que ela fez isso, só ouvi na rádio e tenho alguma dificuldade em entendê-la). A queixinhas. Também havia disso no Liceu.
Chamem-me crédula, mas não acredito que alguém vá para uma coisa destas e tenha um especial prazer em ser humilhado. Em perder. Já que está lá, certamente fará o seu melhor para brilhar. Não pode é carregar um país às costas e não pode servir de saco de pancada para um povo desanuviar das suas frustrações. Quanto a mim, estas pessoas estão a pagar pelo sobreendividamento dos portugueses. Pelo aumento dos combustíveis. Pela chuva em Agosto. Pelo aumento do número de carjacking. Por uma série de outras coisas. Não pelas suas não vitórias. E nem sequer pelos deslizes nas desculpas. Querem vitórias? Apoiem os nossos atletas paralímpicos. Esses, até eu sei, trouxeram 12 medalhas de Atenas. E não será graças aos apoios nem à visibilidade mediática, que andam bem perto dos valores nulos. Ah, pois é, não dá jeito nenhum. Agora vai começar o campeonato, não é? Vamos, portanto, começar a culpar os árbitros pelos maus resultados, deitar-nos tarde por causa das comemorações, chegar ao trabalho com vontade de ir para a caminha e, quem sabe, partir a cara daquele vizinho que celebra os golos das equipas estrangeiras à nossa equipa. Pois é. Com uma agenda tão ocupada, os paralímpicos vão ter de ficar esquecidos. Pode ser que nos lembremos de ver os resultados naquele cantinho do jornal. Ou de os ver nas notícias, logo a seguir àquela reportagem tão engraçada sobre uma cadela que alimentou dois porquinhos rejeitados pela mãe. A porca! Eu continuarei fiel aos meus princípios. Boicote a Pequim é boicote a Pequim. Desejo toda a sorte do Mundo à digna equipa de paralímpicos que nos representa mas, desta vez, o meu coração não vai estar com eles. Desde que descobri que tenho um e o assumi como parte de mim, ele segue os meus ideais. E não vai para Pequim. Nem sequer simbolicamente.
Ao contrário da maior parte das pessoas, não vou pôr-me com falsas modéstias: sou gira, sou inteligente, sou interessante. Mas também sou Má... como todas as mulheres, não é? Como perceberão com as leituras, e como este é um reflexo de mim, naturalmente tenho um blog bipolar!